Sordidíssimos

Este espaço elegeu sua insígnia fundante e faz dela o pretexto que norteia sua aspiração: o objeto sordidíssimo, extraído da poética de Pascal Quignard. Assim, gostaria de fazer-se o lugar que abriga este objeto-resto, intermitente, evanescente, inapreensível, não-especularizável, que ilumina todo dizer; objeto que faz as vezes de resíduo de uma história - pessoal e coletiva - resíduo que não se reduz a nenhum compromisso com a utilidade, com a produção, com o consenso, com a fixação de sentidos totalizantes; lugar que busca escutar e testemunhar a selvageria que marca a irrupção, na linguagem, de novas marcas, novos começos; acolhe a disposição a apreciar aquilo que não encontra lugar nos discursos coletivos e hegemônicos, qualidade marginal que não se erradica, cujos ecos às vezes podem ser recolhidos em meio ao ruído do mundo; caminha em direção à quinta estação da linguagem, zona de encantamento onde a língua volta a estremecer e a sensibilizar o falante, tocar essa zona vibratória da palavra; acena para o desejo insistente e impossível de escrever a origem perdida e inencontrável; sustenta a inclinação a continuar acolhendo o espanto; avizinha-se do que não se dá a ver, consente no inaudito e visa o que, no sujeito, permanece refratário à palavra e às significações. Lugar que abre suas janelas e portas para ler as dobras por onde os falantes oscilam entre os efeitos de encanto, de sedução, de sideração, de fascínio, bem como os de desejo, de espanto e de dessideração. Aqueles que podem ser chamados pela palavra, sejam bem-vindos.

Laerte de Paula