Testemunha incidental

26/01/2017

Há fotos aqui. Faço elas à medida que topo com o inusitado pelas ruas das minhas caminhadas. Aceito o lugar de testemunha incidental. Identifico ora mensagens cifradas, ora sutilezas que parecem retiradas da literatura fantástica.

Outro dia vi um morador de rua jogando um televisor repetidas vezes no chão. Embaixo do viaduto da Av. Dr. Arnaldo. Lamentei não ter tido a presença de espírito de dialogar com ele, mas raramente a tenho. Talvez houvesse ali a oportunidade de ampliar este álbum. Talvez haja um (ou mais) sujeito pela região, que gosta de destruir eletrodomésticos e oferecê-los ao olhar dos passantes. Talvez haja outro que gosta de dobrar placas de rua, como gesto de endereçamento. A Av. Sumaré é um rico depósito de móveis descartados às dezenas, mensalmente, nas calçadas. Há um resto de dizer ali que fica soterrado pelos atropelos de uma cidade grande - eu apenas confirmo sua presença.

Faço-me aquele que, ao final, aceita ver a imagem sem reduzi-la inteiramente à categoria generalizada de problemas sociais. Chego aos poucos ao lugar de descompreendê-las, e visito um estado de perplexidade.