Seminário: Dobra Psicanálise

Seria tentador propor coincidir a estrutura de uma análise com a própria estrutura da sedução: tempo familiar, corte, promessa de recolagem, decepção, e de novo, e de novo... até que algo se invente aí, depois de consentirmos ao furo que obriga todo seduzido-analisante a inventar complementos (e assumir suas satisfações) ao ainda não-escrito.
Ao transtornar as coordenadas de localização de um desejo, a sedução pode ser pensada como uma falha que engendra um entusiasmo por meio do qual um saber será buscado como promessa de recolagem.
Assim, a sedução favorece um adiamento do ser em prol de um percurso que não seria despropositado chamar de desejante (Shoshana Felman o chamou de escandaloso): é que a sedução joga o ser para depois. O seduzido consente em não ser, por enquanto; cede desse interesse estrutural em benefício de uma experiência incerta – mas incandescente – com a linguagem aberta via sedução. Não para encontrar o pedaço definitivo e verdadeiro, mas para constatar que só se pode avançar mudando de posição em relação ao ficcional.
Esta conversa propõe recuperar os discursos produzidos sobre a sedução ao longo da história para dar a estas especulações uma posição mais consequente e potente na clínica. Há uma história das mutações dos significados que a noção de sedução recebeu ao longo dos séculos. E para além dos esforços do campo social para mitigar os efeitos danosos do mal-entendido nos laços que rodeiam o falante, para além do esclarecimento, da transparência e da contratualização, conviria pensar que um analista deve ser capaz de responder com mais inventividade aos meandros do circuito significante: entre as faíscas encantadas que favorecem a abertura desejante e o horror onde o sentido claudica, uma análise pode ser o laboratório onde cada analisante exercita seu traquejo com o mal-entendido. Ocupar nova posição diante do que, não cessando de não se inscrever, seduz.

As inscrições estarão disponíveis amanhã a partir de 08/04 na página da Dobra Psicanálise aqui.