Por que tão fulgurante, por que tão desfolhada, senhora Llansol?

08/10/2020

Por que tão fulgurante, por que tão desfolhada, senhora Llansol? Gostaria de escrever como você, Llansoar, Llanser, Llansolizar. Já tentei, não consigo. Só consigo Laertizar, Laerotizar, Laertecer, Laerodir o que leio. Contento-me em ouvir teu fulgor, isto é, estar teu vizinho, isto é, ser teu leitor. Recolher tuas palavras, você diz desse território contemplativo dos legentes, aceito contemplar você, sentada à beira de sua origem, tentando chegar a uma certa planície, lugar de intersecção da língua, temendo pela impostura que a espreita. O esforço por chegar ao fulgor da palavra, ao esplendor da língua, questão de honra pela qual se pôs a lutar. Habitar esse lugar que você tão bem chamou de entresser, fazer quimera nas palavras. Repetir para mim mesmo tua sugestão: aprender a viver com a leitura que morre. Sentir o eu desfolhar, enquanto realizamos a travessia pela verdade móvel, lugar dessas aparições fosfóricas de que você fala. Estar perto do nervo do mundo. É isso que seria existir no entresser. Chamar de escrita esse gesto de sustentar uma longa sequência da vibração explícita. Arar a terra e colher essa poeira de que é feita a linguagem. A metáfora como fuga ao sentido, uma pequena chama que só permite a compreensão passageira do que está a ler. Senhora L., a compreensão passageira me interessa, já que ela se realiza em passagens, não tem objeto ou fim. Ler como mudar de posição, como sair do lugar, como experiência de instante que lutamos por se fazer renovar. O indizível é feito de nós mesmos, agarrados ao silêncio que representam, que bonito esse teu dizer! E se um dia a voz que você pôde ouvir soprar aqui perto, tentarei passá-la adiante, como você o fez. Essa palavra feminina, como tu.