Livro: O Vento, A Chama

12/12/2019

Um não-livro.

Um não-livro escrito caminhando.

O eco de um repentino silêncio.

Escrito para desaparecer.

Escrito para ventar.

Bloco carmesim furado, quebrado, quebrante, que tenta narrar um livro que está acontecendo no próprio ato de escrever, consentindo em errar quantas vezes forem necessárias. Um livro que procura não apagar os rascunhos com que é feito. É o ato de feitura de um livro que ainda está nascendo. Não é um livro pronto. Quer estar antes. Não é um livro. Quer apenas perseverar neste lento surgimento. Continuar surgindo. 

Estranha oferta de contágio: como uma delicada mortalha que adorna um pedaço de silêncio, e esse silêncio se parece com um segredo pulsante, esquivo às nossas mais insensatas tentativas de dizê-lo.

Este pequeno gesto-objeto nascido de longos meses de caminhadas e viagens pode ecoar junto ao mundo. Na verdade, não diria que escrevi um livro, embora um livro seja somente uma aparência que finge organizar o desconhecido que aguarda o leitor: tentei raspá-lo o máximo possível, para que as letras não encobrissem por inteiro o osso, o nervo de que um livro é feito. De leitura, de silêncio e de errância. Ainda assim, carrega um dizer que me escapa. Ele sabe o que chama, apesar de mim.

Afinal, está pronto, isto é, descompleto e incerto. Publicado para perder-se de mim. Assim posso escrever, isto é, perder outros.

O livro pode ser encontrado nas livrarias ou no site da Editora 106.