Conversa Espaço Catarse

12/12/2020
Existe uma teoria psicanalítica para a sedução? Por uma ressensibilização ao insuportável do erótico - com Laerte de Paula


Que Freud tenha retificado sua teoria da sedução na aurora do século passado, ou que Ferenczi tenha dado destaque para algumas consequências nefastas da confusão de línguas, é o lugar de dizer que entre os primórdios da psicanálise e as produções atuais, faz-se uma abordagem superficial da ideia de sedução e mesmo de sua incidência na clínica. Para além do recorte sempre pueril das revistas e manuais de comportamento, o tema merece um acolhimento que restitua sua dignidade, sua polissemia e seus distintos efeitos sobre os personagens desta cena: sideração, vertigem, amor, ódio e, como efeito central, a abertura hemorrágica da língua, onde criação e desamparo jorram desde a mesma fonte.

Afinal, que efeito é este, uma sedução? Descobrir-se seduzido, descobrir-se seduzindo. A sedução despoja e poderia ser potente saber fazer algo com isso. Febre, palpitação e horror, da sedução somos todos objetos [ou fugitivos]. Não à toa convém nos defendermos dela. O erótico mobilizado na sedução é sempre da ordem do excessivo. Entre os avanços e recuos desta experiência, um esforço por ler o que se passa nessa fulgurante fissura. Esta apresentação, fruto de uma pesquisa em andamento, propõe uma contextualização do tratamento dado a este termo, construindo um caminho de referências e questões que contornem este território cheio de ambiguidades.

Proponho trabalhar com tempos distintos para se pensar a sedução: a presença familiar, a vacilação, a promessa, a decepção. Toda sedução produz um efeito residual que pode ser lido tanto em chave amorosa como em chave ressentida, dependendo de como o sujeito se apropria deste engano. Na chave neurótica, duas leituras adquirem centralidade: ou um ressentimento que culpabiliza o outro e suas más intenções, ou a culpa, a vergonha e o senso de humilhação por ter sido enganado ou haver fracassado na busca de uma experiência verdadeira (isto é, que não trouxesse a decepção). É certo que cada época histórica também condiciona em alguma medida as possibilidades de ler e responder a este tipo de acontecimento. Embora nossos tempos não favoreçam ao acolhimento desse tipo de experiência, é este sempre o trabalho mais central de uma análise.

Data: 12/12/2020 (sábado)
Das 15h às 17h
Inscrição e pagamento: https://forms.gle/WsWtvshLLWtG813N7
Plataforma Zoom Meeting